MICRO CONTO
O microconto não é considerado um
gênero literário gênero, mas um estilo de narrativa que prima pela síntese,
pelo minimalismo. Contudo, como forma de escrever e contar uma história em poucos
caracteres ou poucas palavras, muitas vezes apenas numa frase, é uma arte inquestionável.
Embora velhos e consagrados
escritores como Tolstói, Kafka, Cortázar, Heminway, Dalton Trevissan e Lygia
Fagundes já tenham cometido alguns, é um estilo relativamente jovem, surgido a
partir dos anos 1990.
Os microcontos me lembram os
Picles, aquelas frases humorística que li pela primeira vez n’O PASQUIM em
1969, e que exigia tanto de quem criava quanto de quem lia uma boa dose de
imaginação.
Alguns exemplos de microcontos:
“Fui me confessar ao mar. O que ele disse? Nada.” Lygia
Fagundes Telles
“Quando acordou o dinossauro ainda estava lá.” Augusto
Monterroso
“Uma vida inteira pela frente. O tiro veio por
trás.” Cíntia Moscovich
“Vende-se: sapatinhos de bebê nunca usados.” Ernest
Hemingway
“2 de agosto: a Alemanha declarou guerra à Rússia.
Natação à tarde.” Franz Kafka
“Alzheimer: conhecer novas pessoas todos os dias.” Phil
Skversky
"Eu robô" disse o andróide, entregando-se
à polícia". Carlos Seabra
Bem, num nível de analogias,
podemos dizer que os microcontos são como as pequenas pílulas de vida do Doutor
Ross (quem lembra?); mas eu, particularmente, prefiro algo um pouco maior, mas não como supositórios, como as cápsulas.
Por isso gosto de escrever microcontos com exatas 100 palavras.
Aliás, estou participando do V Concurso Internacional de Microrrelatos "Museo de la Palabra", promovido pela Fundación César Egido Serrano, que exige microcontos com até 100 palavras. Este abaixo não está participando. Vamos torcer...
UM DRAMA EM BELÉM
Olhou pela janela e o que viu causou-lhe um estremecimento.
Saiu do consultório cautelosa e apreensiva: sabia-se desprotegida e ele estava
ali, perto, muito perto. No momento em que pisou na calçada um som conhecido
cai sobre ela como que descido do alto dos edifícios, do topo das mangueiras.
Assustou-se. Daria tempo? O som aumentou. Apressou o passo... Ele também
aumentou. A salvação estava há uns 100 metros. Correu. Ele nos calcanhares. Já
podia sentir seu toque de vez em quando. Era forte. No exato instante que entrou
e bateu aporta do carro o temporal lhe chegou. Sorriu...
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