segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Desabafo de um professor

Uma recente discussão na Lista Blogs Educativos foi sobre o desabafo de um professor de uma escola da rede municipal do Rio de Janeiro. Essa escola, como tantas outras, foi alvo de violência perpetrada, supostametne, por um aluno.

Na última quinta-feira, dia 23/09, essa escola viveu um clima de terror e agonia. De alguma forma um suposto gás tóxico ou asfixiante foi liberado, colocando em pânico toda comunidade escolar e causando problemas de saúde em alunos e profesores.

O quadro atual é esse: Enquanto o governo desenvolve uma campanha para estimular o crescimento do número de professores no país, alguns educadores pensam em abandonar a carreira por conta do elevado risco de vida que virou a profissão.

Se serve de consolo, devo dizer que a tendência é piorar!

Pesimista, eu? Que tal realista? Essa é a dura, cruel e, por que não, abjeta realidade das escolas publicas desse patropi. A violência invadiu o chão da escola brasileira. São roubos, agressões, ameaças a professores, mortes que já frequentam as salas de aula, onde a vítima pode ser qualquer um. Veja um exemplo: Aqui em Belém, na quarta-feira passada, dia 30/09, um professor da escola municipal Inês Maroja foi sequestado ao entrar com seu carro na escola. Isso antes das 15 horas!!! Soube, também, que este é o 4º sequesto relâmpago de professores dessa mesma escola!! Me lembrei de um livro do Garcia Marques, "Crônica de uma morte anunciada"...

Tal como a maioria dos educadores das salas de aula desse reino tupiniquim afora, quero uma escola que harmonize uma pedagogia moderna (ou pós-moderna?) e assentada nas tecnologias de comunicação e informação atuais, com a formação de um ser ético, moral e culturalmente bem constituído. Um indivíduo política e profissionalmente preparado e participativo, um cidadão cônscio de seus direitos e deveres sociais. É isso ou não o tipo de indivíduo que a escola deve formar? Sim, é claro!

Que a Educação é objeto de transformação social todos sabemos. Entretanto, é cada vez maior o repasse e a transferência de responsabilidades e obrigações da nossa sociedade sobre a malfadada escola e sobre o famigerado sistema educacional. E a corda mais fraca está do lado do educador. Se não vejamos: a direção quer que o professor imponha disciplina ao aluno; a familia quer que o professor ensine respeito aos seus filhos, que o eduque moral e culturalmente; o Estado quer que o professor forme um cidadão crítico e participativo, pronto para o mundo do trabalho; e o que quer o aluno? Ele não quer apenas um amigo na figura do professor, quer uma autoridade (veja pesquisa do prof. Marcos Meier - http://www.marcosmeier.com.br) a quem obedeça, que o faça cumprir com seu dever de estudante, que o ponha "nos trilhos", que o "livre do mal - Amém!"

Não sei se antigamente ser professore era mais fácil. Hoje, não é fácil não, pessoal! O profissional tem que ter as "10 novas competência para ensinar"; tem ter as 8 "inteligências múltiplas"; tem que estar inserido na sociedade da tecnologia digital (ter e-mail e URL, blog, site, orkut, facebook, Twitter etc); tem que saber lidar com alunos portadores de necessidades especiais, por conta da política inclusiva; tem que saber identificar o paradigma cartesiano-newtoniano; tem que diferenciar as diversas trendências vigentes ou em desuso (tradicional, libertadora, humanista, escolanovista, tecnicista, critico-social dos conteúdos, construtivista, interacionista, inter-multi-trans-seiláoquê disciplinar); tem que ser pesquisador; cuidar de sua autoformação ou formação continuada e em serviço. É mole?!

Tem que saber do paradigma emergente - e aqui cabe uma ou duas questões: já que ele está emergindo, o que se vê é apenas uma parte, como sua cabeça, ou já se vislumbra quase todo o corpo? Se o novo paradigma mostra apenas uma parte de si, o que trará o restante oculto?-

Antigamente - e eu não quero parecer um conservador, mas um saudosista -, a preocupação do professor era apenas ensinar o que sabia, promover o aprendizado de seus estudantes naquilo para o qual se preparou por 4 ou 5 anos; ou seja, a construção de conhecimentos na sua disciplina. Para isso que foi formado, não é?

Que a sociedade atual exige novos cidadãos e novos valores é fato consumado. E para acompanhar a acelerada evolução das ciências, em todas as áreas do saber, a escola - e o professor em particular - deve estar em constante processo de pesquisa e autoformação. Mas e os pais e responsáveis pelos alunos? E a família? Não devem eles, também e necessariamente, desenvolver seu processo de autoformação, de crescimento e evolução, como célula mater da sociedade? Não estamos invertendo o papel: a escola passou a ser a célula mater da sociedade?

Para finalizar, deixo uma frase que capturei no Abecedário de Antigamente (Silas Correa Leite - http://www.paralerepensar.com.br): Antigamente o "Professor não precisava ensinar caráter e educação, os alunos traziam de casa, do berço, do lar, da família, de próprio acervo grupal".

4 comentários:

Natália disse...

Ótima pergunta, Franz: "Não estamos invertendo o papel: a escola passou a ser a célula mater da sociedade?" Qualquer professor - de escola pública ou privada, ensino formal ou não formal - tem claramente esta percepção: os pais "terceirizaram" a educação! Educação em sentido amplo: aprender desde hábitos de higiene à sociabilização e o respeito. É isso que os pais esperam da escola hoje! Mas eu me pergunto: a escola tem este objetivo, já o incorporou? É isso que o Estado e a sociedade esperam dela?
Tenho a impressão de que só falta a Escola, a lei, e os educadores aceitarem "de papel passado" tais responsabilidades porque, na prática elas já foram transferidas pelos pais a nós, profissionais da educação. Mas aí vem outra questão: assumir este papel seria o melhor caminho para a educação????? Se este for o rumo inexorável, não teria então a Escola que passar por uma reestruturação profunda?
O fato é: da maneira que está, sinto que não estamos sendo eficazes enquanto promotores da aprendizagem e do conhecimento, nem como os "pais" das novas gerações.
O que fazer?
abraços,
Natália

esteblogminharua disse...

Oi, Natália. Sua pergunta é difícil, senão impossível de responder.

Mas sei que somos nos, os professores, quem devemos encontrar a soluçao para esse problema.

As rédeas da educação não estao nas mãos do MEC nem dos gestores da educação nacional, estão nas mãos dos professores.

Fátima Campilho disse...

Franz,
Enviei-lhe um e-mail com o meu comentário. Responda assim que puder.
Abraços

Fátima Campilho disse...

Recebi uma resposta automática de ausência em inglês.
Não entendi! Não falo inglês e achei muito estranho porque há um links para seguir!
Ab

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