quarta-feira, 17 de junho de 2009

Pará, Terra de (a torto e a) Direitos

A greve dos professores do Estado do Pará, que reivindicava 30% de reajuste salarial, vale-alimentação de R$ 400, combate à violência nas escolas e outras melhorias na educação, foi iniciada no dia 24/04 e encerrada nesta segunda-feira (15/06) sem que nenhum dos itens da pauta de reinvidicações fosse atendido pelo governo. A Seduc fechou proposta de reajuste salarial em 12% para professores de nível fundamental, 10% para os de nível médio e 6% a 7,5% para os de nível superior.
Li no Notapajos.com que "a greve chegou ao fim, porque o governo recuou na afirmação de descontar os dias parados" ( Leia na íntegra aqui), disse a coordenadora do Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Pará (Sintepp), Conceição Holanda. “Eles iriam descontar o período que ficamos em greve e só iríamos receber depois que fizéssemos a reposição das aulas, mas a gente sabe que isso é inviável. Como a secretária aceitou a proposta de reposição sem desconto, nós demos por fim o nosso movimento de greve”, complementou ela.
Após ler essa honrosa e nobre justificativa para finalizar uma greve, fiquei sem saber se achava graça pelo ridículo da razão, ou se chorava por ter escolhido uma profissão em que a atitude mais inteligente do seu sindicato é comandar uma greve de 40 dias e depois sair satisfeito porque não sofreu descontos dos dias parados. Após 40 dias de paralização a categoria retorna às suas salas de aula e às mesmas e decantadas dificuldades. Vai continuar com as mesmas reclamações e na mesmice do cotidiano de educador da rede pública, e agora com mais uma greve no currículo, mas na qual não somente saiu derrotada como também mais desgastada, mais cansada e desiludida, porém acreditando que sacudiu os políticos locais, colocou a SEDUC em cheque e desmascarou um governo dito popular, cujo dístico de sua bandeira é "Pará, terra de direitos".
Assim, os grevistas retornam ao trabalho até que o sindicato conclame para nova manifestação paredista e os coloque, novamente, em confronto com o governo e com as forças repressoras que garantem suas decisões. E nas próximas eleições, como nas anteriores, lá estarão eles brigando por seus candidatos, confiando nas promessas por vezes tantas descumpridas e acreditando que tudo se resolve com uma nova greve. Eu sei, eu já pensei assim.
Mas o que funciou muito bem no passado já não tem os mesmos resultados no presente e persisitir na velha fórmula é tolice. Por isso pergunto: será que esse sindicato ainda não percebeu que seu velho mecanismo de greve enferrujou e emperrou? Que uma greve que não mobiliza toda categoria tem seus resultados tão rizíveis quanto os dessa última?
Será que não percebem o quão ridículo é ter brigado por 40 dias e depois se contentar com NADA e, o que é pior, aceitar trabalhar mais para repor os dias parados? Se pelo menos concordassem em ter os dias descontados e NÃO repor as aulas perdidas, aí teríamos alguma coisa nova e digna, com uma repercussão mais significativa. Mas que pai ou mãe aceitaria ficar sem o salário e sem atender as necessidades de sua família, para ser manter fiel às suas convicções e princípios?Para enfrentar sacrifícios é preciso ter mais que coragem, é preciso convicção na causa, porque uma, duas ou mais derrotas não podem abalar uma boa causa.
Não sei se essa reflexão é fruto da idade ou dos meus 30 anos de magistério, a maioria dos quais participando das principais greves e passeatas da categoria, inclusive da primeira greve de professores da rede privada, capitaneada pelo Colégio Nazaré, que na época contava com colegas como Ciro Pimenta, Vatrim, Armando e outros grande professores, mais tarde demitidos. Eis porque, hoje, não participo mais de greves tão inóquas, estéreis e humilhantes. Tenho outra forma de manifestar minha indignação, de rebelar-me contra os políticos que "transformam o país inteiro num puteiro" (grande Cazuza) e se locupletam no caos social que criam. É no instante de votar que faço valer meu direito de grevar: greve de voto.

* A imagem recebi por email. É o modelo da camisa de protesto/greve, que está a venda em Ananindeua, no Conjunto Estélio Maroja - WE 01 (Rua Principal).

7 comentários:

wolney disse...

De fato, esses resultados, cada dia mais comuns nas greves dos trabalhadores da educação, são deprimentes. No século XXI há que se inventar outras formas de se fazer valer os direitos dos trabalhadores.

Venho me perguntando como nós blogueiros poderíamos contribuir com isto: uma blogagem mensal, entrevistando e professores e líderes sindicais e indagando a eles alternativas de lutas?

Natania A S Nogueira disse...

Sou solidária a vc. Acho que nossa categoria perde, a cada greve, uma parte da força, justamente pq nós (nosso sindicato) nos contentamos com algumas migalhas. Eu realmente ando desiludida com isto. Enfim, falta liderança e falta estratégia de luta.

Claudia disse...

Concordo com o Wolney sobre os instrumentos de luta. Essa greve (justa) foi deprimente e frustrante. A categoria perdeu muito...
Sou solidária aos professores, sempre, pois, embora não seja uma, valorizo a importância da educação.

Léa Paraense Serra disse...

Sua postagem lembrou-me de tempos bem longínquos, de fato. De quando "valia a pena" no sentido de ter retorno para a categoria. Hoje, realmente, é humilhante. Senti-me "na pele" do profissional que chora, que faz um balanço de sua trajetória e sente "um grande vazio". Senti isso na segunda-feira, quando a categoria estava prestes a finalizar a manifestação, na certeza de que não conseguimos absolutamente nada. No retorno, não tive coragem de falar do assunto com as turmas, envergonhada e já policiada para não dar margem a comentários vexatórios. Sua postagem lembrou-me, com saudades do prof. Ciro Pimenta, meu professor no curso pedagógico. Bons tempos!
Abraço.

Claudia disse...

Mais um selo, Franz, que faço questão de dar para o seu blog: Prêmio Internacional Utopie Calabresi. Passa lá no Marcos do Tempo.
Beijos!

entremares disse...

Não resisti a deixar aqui um modesto comentário, na minha interpretação da luta que os professores têm entre mãos...
Aqui em Portugal, os professores ( e eu já levo 25 anos de carreira ) têm sido, ao longo dos anos, a classe mais desunida de todas quantas se manifestam e protestam. Temos sindicatos de professores do norte, do centro, do sul, sindicato de professores licenciados, de técnicos... e como diz o ditado – dividir para reinar – neste momento até a lei dividiu os professores em duas classes; os professores titulares... e os professores “normais”.
No ano passado, os professores levaram para as ruas manifestações que atingiram os 140.000 individuos, de todos os quadrantes, na primeira mostra de união jamais vista no país.
Mas quando se fala em formas de luta... todos têm a sua opinião. Por um lado, é obrigatório garantir certos serviços mínimos, o que impede as greves em certas alturas, como nos exames nacionais. Em segundo lugar, o desconto no salário por cada dia de greve é enorme. Em terceiro lugar, muitos professores estão deslocados das suas residências, e qualquer oportunidade para estar com a familia... vem sempre em primeiro lugar, e com razão.
Conheço mal a realidade brasileira na educação e gostava de conhecer melhor. Aqui, em Portugal, sei que vigora um descontentamento enorme, porque todos sentimos que andamos em perpétua mudança, sempre experimentando novas teorias, nunca dando nada como certo... e publicando constantemente novas leis, criando uma confusão legislativa que baralha a mais santa das almas.

Portanto... aceite por favor um abraço de solidariedade.

E um óptimo fim de semana.

esteblogminharua disse...

Oi, companheiro português de Entremares, muto obrigado pela visita e por seu comentario muito rico de informações. Parece que, infelizmente, nos professores somos uma categoria tratada igual em quase todo canto do mundo. Vou fazer uma postagem de seu comentário.
Forte abraço dessa Belém do Pará agora ensolarada. Franz

No TOP BLOG 2011 ficamos entre os 100 melhores da categoria. Pode ser pouco para uns, mas para mim é motivo de orgulho e satisfação.
Sou muito grato a todos que passaram por essa rua que é meu blog e deram seu voto. Cord ad Cord Loquir Tum

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