sábado, 11 de outubro de 2008

A CENSURA DOS PAIS É ZELO.

Desculpem os tecnobregueiros, funkeiros, pagodeiros, os famigerados “forrozeiros” e duplas country, mas gosto de música de qualidade, que tenha conteúdo, que tenha poesia inteligente, lapidada, e de arranjos bem elaborados. Nessa postagem quero falar dessa onda de músicas de qualidade no mínimo duvidosa (para ser cortês e educado), que teriam seus discos quebrados sumariamente pelo Flávio Cavalcante, se ele ainda estivesse vivo e apresentando seus memoráveis programas.

Eu costumava assistir com meu pai aos programas do jornalista e apresentador Flávio Cavalcante, lá em Nova Iguaçu (RJ) nos meados da década de 1960 e década de 1970. Flávio Cavalcante em seu “Um instante, maestro!”, quebrava os discos que traziam letras maldosas ou de má qualidade. prestou valiosos serviços à música brasileira. Ele faz falta hoje, quando as rádios e TV divulgam tanto lixo sonoro travestido de música, que já formam (ou deformam?) o gosto musical de uma geração.

É admirável que se toque nas rádios e programas de TV de apelo popular, tantas músicas cuja vulgaridade e até mesmo obscenidade chegam a ser um atentado ao pudor. Não falo das besteira de duplo sentido cantadas antigamente pelo Genival Lacerda, Sandro Beker (quem se lembra?) e outros. Estas estavam mais para o humorismo e a brincadeira maliciosa. Falo de músicas inspiradas em bandidos, em drogas, em sexo com letras tão explícitas e melodias tão pobres quanto idiotas, e que se tornam-se hits nacionais mais rapidamente do que catinga de carniça se espalhando ao vento.

Coisas como Créu, Funk das Cachorras e similares, ou preciosidades como “Mas se o dinheiro ta na mão, a calcinha tá no chão”, que não esconde a profissão da personagem, ou “Vamos simbora pra um bar beber, cair, levantar”, ambas do grupo de “forró” Saia Rodada, recheiam a programação musical de muitas rádios brasileiras, e bailes por todos os cantos. Já vi e ouvi, até em festas de colégio, crianças dançando com sensualidade (claro que elas não tem essa consciência nem sabem exatamente o que é isso!), sob o olhar sorridente e mesmo satisfeito dos pais, provavelmente achando lindo a filhinha dançar, empinando a bunda e se rebolando com uma mão na cabeça e outra na cintura. O fato é que os pais, por serem apreciadores dessa categoria de música e de programa de TV, não regulam o que suas crianças assistem e ouvem. Em muitos casos até estimulam a imitação.

Meus filhos ouviam os clássicos da música nacional e internacional, mas também assistiam ao É o Tcham! Minha enteada, com 11 anos, tem a base da boa MPB construída em casa; é fã de Zeca Baleiro, Rita Lee, Cássia Eller (e, claro, da banda RBD), mas de vez em quando também ouve um tecnobrega, que é a moda em Belém.
Não pensem que é falso moralismo, é tão somente mais uma preocupação de um educador que gostaria de ver as crianças tendo a chance de conviver também com a boa música brasileira e poder ter opções de escolha. Em muitos lares só se ouve coisas como “Vai popozuda...”, “Um tapinha não dói...”, “Tchu Tchuca...”; e nas TVs o que se tem é Mulher Melancia, Mulher Trepadeira, Mulher Jaca, mulher isso, mulher aquilo. A mulherada que no passado lutava contra o machismo, contra a idéia da ‘mulher objeto’, hoje se entrega a essa onda sem piar.

Não pensem que o lixo musical a que me refiro é somente produção nacional. Há muito lixo internacional que desaba sobre o nosso patropi. Coisas como “I Wanna Fuck You” (Akon) e “Becouse I got hight” (Afroman), a famosa música do Homem Beringela, são um exemplo.

A música brasileira está cheia de excelentes composições, contudo é vergonhosa e deprimente a contribuição da mídia em propalar uma música de caráter obsceno, apenas porque ela vende. Carlos Rodrigues Brandão, em seu “O que é folclore” (Brasiliense, 1982. p. 46) diz: E, todos sabemos, para a indústria da cultura não há arte, devoção, tradição ou ritual. Há produtos culturais que interessam à indústria pelo seu valor comercial: vendem? São bons!”

Não apoio a censura oficial, mas a censura de pais e responsáveis é zelo, é cuidado e formação. E escola deve promover uma leitura maior dessas músicas popularescas que fazem apologia ao crime, prostituição, drogas, e que explodiram nas periferias e hoje toma conta da mídia, sob pena de ser acusada de falta de compromisso com a boa educação do cidadão.

4 comentários:

Adinalzir disse...

É isso aí Franz. Concordo plenamente com você. Toda a sociedade brasileira deveria se posicionar em prol da música de boa qualidade. Isso para mim, infelizmente mostra a que ponto chegou a indústria do lucro musical capitalista. Devemos dar um basta a todos os lixos musicais que estão aí! Também tenho muitas saudades do Flávio Cavalcante.
Um grande abraço,
Adinalzir Pereira
http://saibahistoria.blogspot.com

Márcia Frota disse...

Bacana Frank. Eu e meu marido comcordamos com vc. O que vem gerando o gosto pelo ouvir e produzir tais música? As dificuldades que encontramos na escola no trato com os alunos poderia ser em parte reflexo das "lestras" ? Muitas perguntas? Mas, verddade, verdade é que tudo é lixo e estamos ficando sem lugar para depositar. Sei não...mas não sou contra censura...mas tudo é questão politica.
Penso que devemos fazer nossa parte como educadores apresentando ao nossos alunos a verdadeira música como trabalho de reflexão.
Um grande abraço
Márcia Frota
http://educasempre.blogspot.com

Andréa Ribeiro Aquino disse...

Olá Franz, concordo plenamente com tua colocão sobre essa lixarada musical exposta explicitamente para quem quer ouvir e inclusive e principalmente para quem não faz a mínima questão de ouvir, a não ser para comentar como anda o mercado fonográfico brasileiro em sua maioria e o mercado internacional também mergulhado num mundo de bobageiras, talvez seja reflexo puro da educação recebida por essas pessoas e por conseguinte a de quem as ouvem.
Um abraço,

Conceição Rosa disse...

Oi Franz
Eu também via o programa do Flávio Cavalcanti... Meu tio o idolatrava, e digamos que este meu tio foi o meu "mentor" musical. Cresci ouvindo tanto o ie-ie-ie da minha geração e da rádio local quanto os acordes do Dilermano Reis. Aqui em casa passeamos de Avril Lavigne a Pavarotti, e ainda bem que nada de Mulher Melancia e afins...

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