quinta-feira, 26 de junho de 2008

PROFESSOR: O HOMEM QUE FAZ ESTRADAS

Sempre fui um cara sonhador, um idealista, um romântico, e acho que por isso virei professor. Mas nunca pensei em ser professor...

Na maioria dos casos, desde criança desponta em nós indícios da futura carreira. Eu tinha um amigo na infância que sonhava ser um arqueólogo. Ele imaginava-se descobrindo relíquias enterradas, resgatando tesouros valiosos como um Indiana Jones, embora naquela época nem ele nem Spielberg&Lucas sonhassem com esse personagem. E o danado vivia enterrando coisas pelo quintal, depois desenhava mapas, e íamos brincar de caça ao tesouro. Certa vez até enterrou algumas jóias da mãe, o que lhe rendeu boa surra porque esqueceu onde elas estavam. Hoje é professor.

Outro amigo, que queria ser engenheiro, era o típico “estudante profissional” (ficava na Universidade Federal das 7h às 22hs) e como tinha tempo, cursava também licenciatura. Acabou encontrando mercado como professor.

Já minha filha mais velha, desde miúda brincava de ser professora. Juntava as bonecas na frente da pequena lousa e dava suas aulas. Pouco mais tarde fazia o mesmo com o irmão menor e duas coleguinhas vizinhas. E acabou no cursou de Letras da UFPA. Achei que seria professora, mas hoje é Analista de Contratos da Alunorte e estuda para ser advogada.

Conheço poucos que optaram pela profissão de professor com a satisfação, a certeza, segurança e dedicação de que abraçou a carreira de seus sonhos. A maioria, ou se descobriu professor por acaso ou foi movido pelas circunstâncias e contingências da vida. Também, vamos combinar, ser professor no Brasil não é profissão de fácil e prazerosa lida! Será que ainda vai ser?

Quando pequeno, eu dizia para minha mãe que queria ser o “homem que faz estradas”. Minha idéia romântica era que o homem-que-fazia-estradas não construía apenas uma via de comunicação, um espaço de trocas e progresso (olhem que eu filosofava sem saber que fazia isso!). Me encantava, sobretudo, a idéia de desbravador de terrenos inóspitos, na tentativa de projetar e construir algo que as pessoas, milhares, utilizassem para chegar aos seus objetivos.

Minha saudosa mãe via uma opção de carreira na área da engenharia para seu primogênito. Confesso que até tentei. Tentei o curso de Edificações na Escola Técnica Federal Celso Suckov da Fonseca, em São Cristovão (RJ) e, 10 anos mais tarde, já em Belém (PA), tentei Arquitetura e Urbanismo no Cesep (atual Unama). Não completei nenhum deles, mas entre um e outro fiz Licenciatura em Física e, sem saber como, me tornei professor.

A profissão que se escolhe não somente é um meio de promoção do humano no ser, como também deve ser geradora de realização pessoal e de mobilidade social. Me parece que o magistério tem sido uma carreira profissional circunstancial, fortuita, feita de acasos. E se formos considerar as “Competências para Ensinar” descritas por Perrenoud, veremos que o ofício de professor exige um modelo de virtude profissional muito difícil de atingir, ainda que buscado.

Assim como eu, há muitos professores sem saber explicar bem como chegaram a sê-lo, mas que acabaram descobrindo que foi para isso mesmo que nasceram. E como mostra o premiado filme sobre as três irmãs cantadoras da Paraíba (as ceguinhas de Campina Grande), do cineasta Roberto Berliner, cada um nasce para o que é. E essa descoberta é que faz toda a diferença.

Ao tentar desenvolver, ou estimular, no meu aluno valores éticos, morais e culturais indispensáveis para sua inserção no mercado e para que sua contribuição social seja boa e fecunda, eu descobri que me tornei, sem perceber, o homem-que-faz-estradas. E isso me deixa muito feliz! Este rio é minha rua!!

4 comentários:

Luis disse...

Olá Franz. Seu texto (memorial) está muito lindo mesmo. Traz uma série de elementos que as vezes nem nos damos conta.E desejo que você ainda faça muitas estradas na vida de seus alunos.

Abraços

Coordenação S.I. disse...

Puxa, me identifiquei muito com seu texto. Não planejei ser professora, mas me descobri sendo a profissional que nasci pra ser.
Abraço.

CELOY disse...

Olá Franz, tenho passado por aqui constantemente, mas este texto está muito especial! resolvi deixar meu elogio ao blog.

Sou do NTE de Xanxerê - SC e assim como você eu amo a educação e suas causas.
Se um dia desses tiveres um tempinho visite-nos por favor.
ntexanxere.blogspot.com

Um Abr@ço e obrigada por nos proporcionar tantas informações e reflexões essenciais a maravilhosa profisão de educador!

Unknown disse...

Interessante sua observação. Por vezes confesso o meus colegas aqui do setor, também Professores mas no momento afastados de sala de aula, trabalhando na Secretaria de Educação aqui no Paraná e me sinto diferente, por comentar que sinto falta da sala de aula e do contato com os estudantes. Eles me olham... e o silêncio e os olhares bastam. Ora... somos todos Professores!!!! e veja só.... gosto de lecionar!!!!
Sou diferente por isso????

ps. preciso achar tempo p atualizar meu blog... rs

No TOP BLOG 2011 ficamos entre os 100 melhores da categoria. Pode ser pouco para uns, mas para mim é motivo de orgulho e satisfação.
Sou muito grato a todos que passaram por essa rua que é meu blog e deram seu voto. Cord ad Cord Loquir Tum

Powered By Blogger
Petição por uma Internet Democrática